
Férias ON, telas OFF: estratégias pedagógicas para desconectar as crianças nas férias de julho
Com o aumento do tempo livre, especialistas alertam para os riscos do uso excessivo de telas e apontam práticas lúdicas e pedagógicas para manter as crianças longe dos dispositivos tecnológicos durante as férias.
Com o início das férias, as crianças ganham mais tempo livre — consequentemente, passam ainda mais horas em frente às telas. Embora o descanso seja merecido e o conteúdo digital possa funcionar como entretenimento, segundo a Academia Americana de Pediatria, o uso excessivo de telas por crianças de até 10 anos configura um problema de saúde pública emergente.
Estudos apontam que, em muitas casas brasileiras, o tempo médio diário de exposição salta de menos de uma hora para quase três horas, reflexo da maior oferta de conteúdos digitais e da mudança de rotina nas férias.
Principais consequências clínicas do excesso de telas
1. Visão e conforto ocular
Miopia — cujo risco aumenta em até 21% a cada hora extra diária de tela — e a Síndrome Visual do Computador (ou “fadiga ocular digital”) têm se tornado frequentes. Crianças relatam olhos secos, visão borrada e cefaleia após longos períodos em frente a tablets e celulares.
2. Sono e ritmo biológico
A luz azul emitida por dispositivos inibe a produção de melatonina, prejudicando a qualidade do sono. Pesquisas indicam recorde de queixas de despertares noturnos e dificuldade de manter o ciclo biológico regular em pequenos que são expostos a telas antes de dormir.
3. Postura e sedentarismo
O chamado “pescoço de texto” — postura inclinada com a cabeça projetada para frente — já provoca dores cervicais em idades cada vez mais precoces. Paralelamente, o tempo sedentário diante de telas substitui brincadeiras ativas, elevando riscos de sobrepeso e de problemas cardiovasculares futuros.
4. Desenvolvimento cognitivo e emocional
Dados da JAMA Pediatrics mostram que cada minuto adicional de tela em crianças de 1 a 3 anos reduz, em média, 6,6 palavras proferidas pelos pais e 4,9 vocalizações dos pequenos, comprometendo o surgimento da linguagem. Além disso, pesquisas associam uso intenso de telas à maior probabilidade de sintomas de ansiedade e depressão, também estabelecem relação com transtorno de déficit de atenção.
Contribuição pedagógica do Gabarito
Erika Machado Fonseca, pós‑graduada em Psicopedagogia e Analista Pedagógica do Gabarito Educação, reforça que o aumento do tempo de tela nas férias é natural, mas reversível com planejamento familiar. Para ela, “oferecer propostas mais interessantes, com disciplina e envolvimento de toda a família, transforma as férias em coleções de memórias incríveis”.
Na Educação Infantil, Erika adverte para sinais de alerta: irritação extrema ao fim do uso da tela, perda de interesse em brincadeiras anteriormente atrativas e impacto no sono e nas refeições. Segundo ela, esses sinais devem mobilizar os pais a buscar alternativas lúdicas que estimulem o brincar livre e a socialização.
“As telas oferecem tudo pronto e limitam a criatividade. Brincar com caixas de papelão, massinha ou jogos de montar exige imaginação e resolução de problemas, fundamentais para o desenvolvimento infantil”, destaca Erika.
Erika explica que, mesmo fora do período letivo, a escola apoia as famílias por meio de informativos curtos e objetivos enviados por e-mail ou WhatsApp, com dicas práticas. Além disso, já foram realizadas palestras sobre segurança digital e equilíbrio da rotina.
A analista traz, também, dicas práticas para férias “sem telas”:
1. Atividades ao ar livre: passeios em parques, trilhas, piqueniques e visitas a cachoeiras, para gastar energia.
2. Brincadeiras não estruturadas: caixas de papelão viram cenários para teatro e circuitos de obstáculos.
3. Projetos culinários: receitas simples para cozinhar juntos, trabalhando matemática e coordenação.
4. Leitura compartilhada: hora do conto, com vozes encenadas, para estimular a linguagem e o vínculo afetivo.
5. Transição lúdica: contagem regressiva de 10 a 1 para desligar a tela, seguida de convite a outra atividade, evitando o caráter punitivo.
Diretrizes de organismos internacionais
• A OMS recomenda evitar exposição a telas antes dos dois anos de idade; limitar uso por até uma hora diária por crianças de dois a cinco anos; duas horas diárias para aquelas entre cinco e dez anos; e no máximo três horas por adolescentes.
• A Sociedade Brasileira de Pediatria aconselha manter dispositivos fora do quarto para preservar a higiene do sono e limitar a uma ou duas horas diárias para crianças na faixa etária de seis a dez anos.
• O psicólogo social Jonathan Haidt propõe restrição total de redes sociais (Instagram, TikTok) até os 16 anos, citando riscos à saúde mental nas fases iniciais do desenvolvimento.
Com essas estratégias, as férias de julho podem ser uma oportunidade para resgatar o prazer do brincar livre, fortalecer vínculos familiares e proteger a saúde física e mental das crianças.