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Cinema para surdos: Centro Cultural Unimed-BH Minas exibe filme Oroboro para pessoas com deficiência auditiva

Crédito: Claroescuro

Sessão especial dedicada a Vinícius De Andrade Santos, surdo e participante do filme; com entrada gratuita e exclusiva para surdos, a exibição será no dia 23 de maio (sexta), às 20h, e contará com uma conversa entre o homenageado e a comunidade surda
“Oroboro é um filme fascinante. Ao longo de uma montagem fluida e elíptica, o entrelaçamento das duas séries — a encenação de Grande Sertão e a de A Flauta Mágica — mantém nossa curiosidade viva até as imagens finais.”

— Michel Marie, historiador e teórico do cinema, professor emérito da Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3

O ano era 2018. Um grupo de estudantes de um colégio nova-limense vivenciava seu último ano escolar — um dos períodos mais memoráveis da adolescência, marcado por decisões importantes que podem impactar os jovens ao longo da vida. Foi a partir de uma decisão firme e coletiva que o grupo, formado por 22 estudantes, resolveu mergulhar profundamente no universo roseano, adaptando para o teatro Grande Sertão: Veredas, um dos livros mais emblemáticos da literatura brasileira.


A coragem, sensibilidade e maturidade daqueles jovens, com idade em torno de 18 anos, chamavam a atenção de quem acompanhava de perto aquele processo artístico e, ao mesmo tempo, pedagógico. Um desses estudantes era Vinícius De Andrade Santos, que viveu o jagunço Ricardão na peça, registrada pelo filme Oroboro, dirigido por Pablo Lobato.


Surdo, Vinícius inspirou a Claroescuro Studio — produtora do documentário — a tratar, de forma sensível e cuidadosa, os recursos de acessibilidade voltados para pessoas com deficiência. Para isso, a Claroescuro contou com a parceria da Sem Rumo, uma das principais produtoras brasileiras dedicadas ao tema.
No dia 23 maio de 2025 (sexta-feira), às 20h, o público poderá vivenciar a sessão “Oroboro: Cinema para Surdos”, no Centro Cultural Unimed-BH Minas. Com entrada gratuita e exclusiva para pessoas com deficiência auditiva, a sessão será para homenagear Vinícius De Andrade Santos, que atualmente cursa Letras-Libras na UFMG e é um criador de conteúdo digital reconhecido.


Após a exibição, haverá uma conversa sobre o documentário com as presenças de Vinícius e pessoas da comunidade surda. A sessão contará ainda com Libras e Legenda Descritiva. Os 40 ingressos de “Oroboro: Cinema para Surdos” podem ser adquiridos por meio do preenchimento do formulário disponível neste link:

Oroboro em Libras
Recentemente, Vinícius foi convidado pelo diretor Pablo Lobato para criar o sinal de Oroboro em Libras. O público pode conferir o resultado neste vídeo postado no Instagram da Claroescuro Studio:
https://www.instagram.com/p/DJsIuipxAdp/?img_index=6
Durante o processo de criação, o jovem sinalizou: “Fiquei inspirado ao ver o filme e resolvi criar um sinal em Libras. Oroboro possui quatro letras O e um B. Também pensei na origem do símbolo, que tem a representação de uma cobra. Então, fiz uma junção: a cobra, mais as letras O e B.”

O filme
Oroboro, documentário que estreou em março deste ano e até o momento já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Salvador e Porto Alegre, acompanha dois grupos de alunos que adaptaram para o teatro duas obras-primas da literatura e da música: Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e A Flauta Mágica, de Mozart.


A partir dos ensaios, apresentações e da rotina escolar, Oroboro acompanha a intimidade das descobertas, dores e alegrias vividas na radicalidade da juventude. As forças paradoxais das personagens encenadas movem uma vasta constelação temática: vida e morte, arte e educação, cinema e teatro, natureza e urbanização


O colégio, locação principal do filme e palco das encenações, está situado em um vale entre Belo Horizonte e Nova Lima. Atravessado por um córrego e cercado por áreas verdes e corredores ecológicos, hoje se vê pressionado por uma das urbanizações mais dinâmicas do país.


“Diante de uma sensível prática formativa, nesta fronteira entre metrópole e interior, entre expansão econômica e conservação ecológica, percebi um espelho da sociedade brasileira contemporânea. Oroboro é fruto destes paradoxos e revela algo que resiste, vindo desse vínculo essencial entre a arte e a formação humana”, explica o diretor Pablo Lobato.


Produzido pela Claroescuro Studio e distribuído pela Fênix Filmes, Oroboro conta com o apoio da Lei Paulo Gustavo para sua distribuição e o patrocínio da Saúva Jataí para a finalização.
Nota: Oroboro remete ao símbolo ancestral da serpente que engole a própria cauda, formando um círculo. De origem grega, representa o ciclo da vida, a renovação e a transformação contínua.

A confluência entre arte e formação humana no trabalho de Pablo Lobato
O retorno de Pablo Lobato ao cinema com Oroboro reafirma seu modo de criação, que escapa a uma única linguagem e se constrói na relação com diferentes contextos. Seu trabalho acontece no encontro com as forças disponíveis, na colaboração com a matéria e na atenção ao que emerge em cada fazer. Entre o cinema e as artes visuais, seus últimos anos têm sido atravessados pelos diálogos entre arte e formação humana.


“Oroboro partiu de um espanto. Em 2018, me deparei com um brilhante grupo de jovens estudantes adaptando Grande Sertão: Veredas para o teatro. Fiquei profundamente tocado ao vê-los criando juntos, encontrando embocadura para esse mito fundador brasileiro. A peça já estava em curso, mas o filme nascia ali, sem um projeto, sem recursos disponíveis, apenas na urgência do que acontecia diante de mim. Senti que precisava atender a esse chamado. No início, precisei seguir sem equipe, movido por esse encontro inesperado. Aos poucos, fui me aproximando mais desse colégio de Minas Gerais, onde uma linhagem pedagógica implementa, no cotidiano, um pensamento indissociável da arte. Entre 2018 e 2020, formei uma pequena equipe e acompanhei com minha câmera os processos imersivos vividos pelos estudantes, gravando também a segunda turma de adolescentes mais jovens, que me encantou ao adaptar A Flauta Mágica, de Mozart”, relembra Lobato.


Isabella Brisa, aluna e a atriz que interpretou o personagem Hermógenes em Grande Sertão: Veredas, no ano de 2018, comenta sobre a experiência de reviver o processo de criação do espetáculo a partir do filme. “Oroboro foi um presente maravilhoso. O filme é emocionante; sua sensibilidade me tocou profundamente. Minha sincera gratidão e admiração por esse trabalho magnífico e por todos que o tornaram possível. Foi um privilégio participar deste projeto, que reacendeu em mim o desejo de me expressar através da arte”, ressalta Brisa.

Ficha Técnica
Nome: Oroboro
Gênero: Documentário
Duração: 81’13”
Ano: 2025 (filmado de 2018 a 2022 em Minas Gerais, Brasil)
Idioma: Português
País: Brasil
Direção: Pablo Lobato
Produção Executiva: Marcus Leskovsek
Produção: Marcus Leskovsek e Pablo Lobato
Produtora: Claroescuro
Fotografia: Pablo Lobato
Argumento: Pablo Lobato
Roteiro: Daniel Tavares
Montagem: Luiz Pretti e Pablo Lobato
Som: Nelson Pimenta Soares Filho, Pablo Lobato e Pedro Aspahan
Trilha sonora: O Grivo