Documentário Maestra estreia na 18ª edição da CineBH
Foto: Bruna Piantino
Filmado ao longo de seis anos, o documentário “Maestra”, dirigido por Bruna Piantino e produzido pela Carapiá Filmes, acompanha a história de Cenir Silva, uma mestre de obras que há 26 anos trabalha na construção civil. O filme terá sua estreia no dia 27 de setembro, às 16h, no Cine Humberto Mauro (Palácio das Artes), com entrada gratuita. A obra integra a programação da 18ª edição da CineBH, no âmbito da “Mostra Continente”, que apresenta filmes que destacam o cinema contemporâneo da América Latina. São produções inéditas do Brasil, Argentina, Costa Rica, Cuba, República Dominicana e Colômbia.
O filme conta a jornada da mãe solo e chefe de família Cenir Silva, que após passar por diversos ofícios, iniciou-se na construção civil. Em sua trajetória, começou a trabalhar em mutirões autogestionados incentivados pela Prefeitura de Belo Horizonte, na década de 90, até tornar-se mestre de obras. Atualmente, ministra oficinas de autoconstrução dentro do projeto “Arquitetura na Periferia”, onde ensina mulheres a reformarem e construírem suas casas, formando uma rede de autonomia feminina. Além de atuar no projeto “Arquitetura na Periferia”, também foi responsável pelo processo de restauração do casarão que abriga o Espaço Comum Luiz Estrela, local onde se deu o encontro entre a diretora e a protagonista do documentário. “Acredito que haja algo imagético e plástico nesta história, pela forma como o corpo feminino se situa no meio de uma tarefa construtiva. Uma história a ser contada é a da autonomia das mulheres. Cenir afirma, através do seu ofício, o enorme poder que é construir uma casa com as próprias mãos”, comenta Bruna Piantino.
Embora a trajetória de Cenir seja notável, de forma poética e sensível, o documentário levanta questões sobre a realidade das mulheres na construção civil. A história de Cenir é inspiradora, mas também expõe as dificuldades e desafios enfrentados por mulheres em um setor predominantemente masculino. “Já sofri preconceito. Trabalhei numa construtora grande onde eu era a única mulher, em meio a mais de 400 homens. Havia homens que achavam que podiam me desrespeitar e ficar por isso mesmo, e eu tive que dar um basta. E já teve quem acreditasse que eu não era capaz”, relata a mestre de obras.
A luta pela autonomia e pelo direito à moradia digna são alguns dos temas tratados no filme, que também convida à reflexão sobre as barreiras estruturais que ainda precisam ser superadas. A história de Cenir serve como um exemplo de como as mulheres podem conquistar independência e liberdade através do trabalho e da educação. “São mulheres que têm um poder aquisitivo bem baixo e enfrentam outros problemas também, não só financeiros. A maior satisfação que eu tenho trabalhando na Arquitetura da Periferia é de ver a satisfação delas de aprenderem e se verem capazes, dando continuidade a esse ofício”, revela Cenir.
Para a diretora, Bruna Piantino, a construção coletiva de casas fortalece as relações entre as mulheres que trabalham em cooperativas habitacionais de autoajuda mútua, ao transformar os espaços onde vivem, ocupando-os na perspectiva da luta pela emancipação política, social e econômica. De forma observacional e colaborativa, filmou Cenir não somente em seu papel social, mas também nas sutilezas que compõem sua dimensão humana. No processo de feitura do documentário, a câmera se adaptava às situações que se apresentavam, trazendo um tom de intimidade em alguns momentos, e uma apreciação mais distanciada em outros. A montagem feita por Clarissa Campolina também foi um eixo importante para trazer fluidez ao arco narrativo. A trilha sonora é composta por uma seleção musical eclética e conta com a parceria de artistas locais como Titi Rivotril e Iconili.
A sócia-fundadora da Carapiá Filmes, Fernanda Vidigal, comenta que o conceito apresentado pela diretora está em consonância com o foco da produtora, que é fazer cinema de forma colaborativa e humana. “Buscamos nas nossas produções impulsionar diretoras emergentes com o intuito de produzir filmes a partir de novos olhares e com temáticas de forte apelo artístico, político e social. Quando a Bruna me apresentou o projeto Maestra, fiquei encantada com a força da personagem Cenir. Enfrentamos diversos obstáculos e, assim como as obras da Cenir, o filme só pôde ser construído por contar com muitas mãos e apoio da nossa equipe e amigos”, elucida.
Em etapa de desenvolvimento, o filme passou pelos laboratórios BH DOC LAB, com os consultores Pedro de Filippis e Davit Gimenez, e pelo LAB IMERSÃO DOC – Brasil CineMundi, dentro da programação da Mostra de Cinema de Tiradentes, recebendo consultoria de roteiro de Cleber Eduardo. O filme foi realizado com recursos do edital municipal BH nas Telas, e conta com recursos de divulgação do edital estadual Lei Paulo Gustavo.
Sinopse
“Maestra” nos dá a conhecer não uma maestra sinfônica, mas uma maestra de outras obras, uma mestre de obras, Cenir Silva. O que rege, com o quê, com quem, para quê e para quem rege a maestra? Cena a cena, filmadas no período de seis anos, nos muitos gestos de um trabalho incessante, o seu, combinam-se cálculo, força e um certo jeito de corpo. Cada gesto, uma parte daquilo que os que não constroem acostumaram-se a comprar pronto. Uma obra guarda uma técnica e uma linguagem que precisam ser compartilhadas, para que os que constroem possam se contrapor à dureza da vida, esta que precisa abrigar-se num quarto cor-de-rosa, numa casa, numa cidade que não se lhes oferecem prontos.
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