Neste sábado (1º): Bloco Seu Vizinho celebra 10 anos de história com desfile carnavalesco no Aglomerado da Serra
Crédito: Carlos Hauck
Cortejo deste ano acontece na Avenida Mem de Sá, no sábado de Carnaval, dia 1º de março, na abertura oficial da folia; com expectativa de 120 mil foliões, desfile celebra uma década de história do bloco e homenageia a escritora mineira Conceição Evaristo
Celebrando 10 anos de uma revolução sociocultural promovida no Aglomerado da Serra, o Bloco Seu Vizinho realiza seu desfile oficial de Carnaval neste sábado, dia 1º de março, a partir das 12h. O evento é gratuito, com concentração na Avenida Mem de Sá, próximo ao número 1.882, na região do “Canão”, divisa entre Vila Fazendinha, Aglomerado da Serra e o bairro Santa Efigênia. A expectativa é que ao menos 120 mil pessoas acompanhem a festa deste ano, que terá convidados surpresa e muitos hits da música brasileira.
Para o Carnaval de 2025, o Bloco Seu Vizinho celebra uma década de existência sob a temática “Tá Rolando de 10 — Se Armando de Coragem e Esperança”. O conceito mistura uma conhecida gíria repetida pelos becos e vielas da comunidade com uma frase cunhada pela escritora mineira Conceição Evaristo, em alusão à sua interpretação atenta sobre as perspectivas almejadas para o povo negro, população majoritária nas favelas do país. E esse é um discurso que inspira a trajetória e a história do grupo percussivo formado no Aglomerado da Serra em 2014, sob a direção geral do regente Paulo Vitor Ribeiro, o PV.
“A Conceição Evaristo é uma mulher negra, periférica, vinda de uma comunidade chamada Pendura Saia, no alto da Avenida Afonso Pena, na divisa com o bairro Serra. Um dos livros que eu li da Conceição foi o ‘Becos da Memória’. Nos ensaios do bloco, fizemos pílulas de leitura, em pausas de dez minutos, para inspirar a temática deste ano. A Conceição fala da realidade de vários moradores de comunidades que sofrem processos de retirada de seus territórios. Isso gerou uma reflexão para a gente ir para a avenida transformado por essa realidade, pensando na importância do nosso território”, destrincha PV.
Desfile
Um dos destaques do Bloco Seu Vizinho neste ano é o reforço da bateria, que passa a contar com 80 integrantes — dez a mais do que no ano passado. Os figurinos e adereços ainda serão conhecidos, mas vão seguir a tradicional paleta de cores contendo preto, prata e dourado, que se tornou uma marca do bloco.
O público também pode esperar convidados de peso que o bloco costuma atrair — ano passado, MC Carol e o rapper Djonga subiram no trio elétrico do Seu Vizinho para encorpar a festa. Neste ano, os nomes que vão ajudar a agitar a folia seguem mantidos em segredo para surpreender os foliões.
No repertório, estarão presentes interpretações carnavalescas marcantes de artistas diversificados, misturando gêneros presentes na cultura de favela, a exemplo do samba, do funk e do pagode. Neste ano, o público pode esperar hits de artistas como Ludmilla, Liniker, Gloria Groove, Afrocidade, entre muitos outros.
Além disso, o desfile terá as tradicionais marchinhas autorais do grupo Vizinhas das Cantigas — formado por 10 cantoras e compositoras da terceira idade, a maioria delas negras, todas moradoras do Aglomerado da Serra. O grupo é uma atração à parte do bloco, ao também participar da tradicional e emocionante abertura do desfile.
História
Com mais de 300 profissionais envolvidos, o Bloco Seu Vizinho tem a proposta de realizar um Carnaval democrático, acessível e, sobretudo, voltado para os moradores da periferia. Ao longo dos anos, ficou conhecido por movimentar o Aglomerado da Serra, não apenas pela ocupação de becos e vielas com cores, glitter e marchinhas. Mas também culturalmente e economicamente, ao oferecer oportunidades de renda aos moradores e acesso à profissionalização artística, por exemplo, por meio de oficinas de arte e dezenas de projetos sociais voltados para a leitura, a educação e a cultura.
“O Carnaval do Bloco Seu Vizinho não acontece só no dia do desfile. Fazemos três cortejos antes da folia, em dezembro, janeiro e agora em fevereiro. Cada cortejo é em um lugar da favela. Convidamos os moradores e o público de fora, alertamos o comércio para estar aberto. É uma oportunidade de geração de renda em diferentes pontos do Aglomerado e também de provocar essa reflexão sobre o cuidado, o respeito, a limpeza da comunidade e a segurança do nosso território”, avalia o regente.