
Praça Sete e Praça da Estação vão ganhar iluminação no Dia Nacional da Conscientização sobre a Dermatite Atópica
A dermatite atópica, uma doença de pele crônica, não contagiosa e de origem genética, representa um desafio de saúde pública de dimensão ainda não mapeada por dados oficiais em Minas Gerais. Contudo, um especialista na área acende um alerta sobre a magnitude do problema no Estado.
Para aumentar a visibilidade sobre a condição, no próximo dia 23 de setembro, data que marca o Dia Nacional da Conscientização sobre a Dermatite Atópica no Brasil, dois icônicos cartões-postais de Belo Horizonte receberão intervenções, são eles:
- A Praça da Estação, no Hipercentro, receberá uma iluminação especial nas cores verde e laranja durante a noite, como parte de um esforço nacional de mobilização;
- Já a Praça Setre, também no Hipercentro, receberá projeções em LED com imagens de pessoas que possuem dermatite atópica.
A estimativa sobre a prevalência em Minas vem do Diretor Institucional da Associação Brasileira de Pacientes Atópicos, Oncológicos e de Doenças Raras (Atópicos Brasil), Jules Cobra. Segundo ele, o número é resultado de um cruzamento de dados da própria associação com informações do DATASUS.
“Em Minas, o número de casos é de aproximadamente 5% da população que pode vir a ter ou tenha dermatite atópica e esse número é crescente. É importante que as políticas públicas de saúde no Estado estejam direcionadas para que os pacientes possam contar com um sistema público de saúde preparado para recebê-los”, diz.
Em âmbito nacional, os números corroboram a relevância da doença. Dados do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) indicam que a dermatite atópica afeta entre 15% e 25% das crianças e de 3% a 7% dos adultos. Entre 2024 e 2025, o SUS registrou mais de 500 mil atendimentos a pacientes com a condição em todo o país, um reflexo da alta demanda por cuidados.
Conquistas recentes na saúde pública
Reconhecendo a necessidade de ações coordenadas, importantes passos foram dados recentemente. A Lei nº 14.916/2024 instituiu o Dia Nacional de Conscientização sobre a Dermatite Atópica em 23 de setembro, com o objetivo de disseminar informações sobre a doença, que se manifesta por pele seca, vermelhidão e, principalmente, uma coceira intensa que compromete significativamente a qualidade de vida.
Um marco fundamental ocorreu em junho deste ano, quando o SUS incorporou o tratamento gratuito para a dermatite atópica em todo o território nacional. Foram incluídos três medicamentos essenciais: duas pomadas de uso tópico e o metotrexato, um medicamento oral. Segundo o Ministério da Saúde, essa inclusão abrange desde os casos iniciais até os quadros mais graves, oferecendo tratamentos que reduzem os efeitos colaterais nos pacientes.
Seguindo a mobilização nacional, Minas Gerais também avançou. O governador Romeu Zema (Novo) sancionou, em abril deste ano, a Lei 25.222, que cria uma política estadual específica para a dermatite atópica. Originada de um projeto do deputado Arlen Santiago (Avante), a nova legislação visa estimular o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, estabelecendo diretrizes como a promoção de ações educativas, a capacitação de profissionais de saúde e o acompanhamento multidisciplinar dos pacientes, incluindo dermatologia, psiquiatria e psicologia.
O desafio do diagnóstico
Apesar dos avanços, a jornada do paciente ainda é marcada por desafios. Para a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Minas Gerais, Michelle Diniz, a falta de informação é uma barreira crucial. “Campanhas de conscientização são muito importantes, apesar de ser uma doença relativamente frequente, ainda é subestimada e muitas vezes confundida com um problema simples de pele, o que pode levar a atraso no diagnóstico e tratamentos inadequados”, explica a dermatologista.
A médica ressalta que a confusão com alergias comuns é frequente e pode retardar o acesso ao cuidado correto. “Muitos pacientes podem demorar até receber o diagnóstico correto. Mesmo após o diagnóstico, temos desafios no manejo, tanto por falta de informação, subvalorização dos sintomas, dificuldade de acesso a dermatologistas e a própria adesão ao tratamento, que muitas vezes pode ter um custo elevado”, completa Diniz.
O fardo na saúde mental e social
Os impactos da dermatite atópica transcendem as lesões visíveis. A coceira incessante e a aparência da pele afetam profundamente a saúde mental e o convívio social dos pacientes.
“O prurido intenso e crônico vai levar a perda de sono, fadiga, irritabilidade. Muitos desses pacientes acabam sofrendo de depressão, ansiedade, baixa autoestima. E isso leva a um comprometimento não só do paciente, mas da qualidade de vida da família também, com impacto na escola e vida profissional, podendo levar ao isolamento social”, detalha a médica.
Jules Cobra complementa, descrevendo a dura realidade de quem convive com a forma grave da doença. “Não é fácil. Um paciente de dermatite atópica tem um prurido, ou seja, coceira, que dura em torno de 16 horas por dia. Ele não dorme, vive irritado”, relata.
As lesões causadas pelo ato de coçar podem infeccionar e gerar odor, agravando o estigma. “O paciente, no convívio social, é muito abalado, vítima muitas vezes de preconceito. Sua vida profissional é prejudicada. O fato de ele passar grande parte do dia coçando, provoca lesões na pele, algumas vezes com mau cheiro. Em consequência disso, o paciente começa a ter um absenteísmo muito grande no trabalho, porque precisa ficar em casa para obter algum controle da doença”, conclui Jules.
SERVIÇO:
Dia Nacional da Conscientização sobre a Dermatite Atópica no Brasil
Data: 23 de setembro
Ação: Iluminação verde e laranja será acesa na Praça da Estação e o edifício do Cine Theatro Brasil receberá projeções em LED com imagens de pessoas que possuem dermatite atópica.
Horário: Noturno.